Matéria; Lucas Freitas
Moradores enfrentam meses de espera por atendimento, falta de hospital geral e acusam prefeitura de descaso
A saúde pública de Queimados, na Baixada Fluminense, atravessa uma crise sem precedentes. Com baixa cobertura da atenção básica, longas filas de espera, ausência de hospital geral e denúncias de fraudes no sistema de marcação de consultas, o município de cerca de 150 mil habitantes vive um cenário de colapso. A situação tem provocado revolta da população, que nos últimos meses organizou protestos contra o que chamam de abandono da administração municipal.
Segundo dados oficiais, Queimados é o único município do Rio de Janeiro com menos de 50% de cobertura da atenção básica à saúde. Apenas um terço da população tem acesso regular a consultas, exames e vacinas. Moradores relatam que a espera para uma consulta médica pode chegar a seis meses — em alguns casos, até um ano. “Se você precisa de um remédio de pressão ou de diabetes, corre o risco de não ser atendido a tempo. E se for uma emergência, não tem para onde correr”, lamenta uma moradora do bairro Fanchem.
Além da precariedade estrutural, a saúde municipal foi alvo de operação da Polícia Federal no início deste ano. A investigação apura um esquema de troca de vagas do SUS por apoio político nas eleições, envolvendo servidores e ex-integrantes da Secretaria de Saúde. Mais de 300 atendimentos irregulares foram identificados no sistema nacional de regulação, o Sisreg. A suspeita é de organização criminosa e corrupção eleitoral, com penas que podem chegar a 24 anos de prisão.
A indignação da população se transformou em mobilização. Em outubro passado, moradores realizaram um ato simbólico no centro da cidade, levando um caixão que representava o “enterro do descaso com a saúde”. Faixas pediam auditoria no Sisreg e a implantação de uma base do SAMU. “Estamos defendendo o SUS e denunciando a falta de compromisso com a vida dos queimadenses”, disse Maria da Penha Oliveira, ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde.
Enquanto isso, a gestão municipal, comandada pelo prefeito Glauco Kaizer, é alvo de críticas crescentes por parte de moradores, lideranças comunitárias e representantes do setor. Para a população, a falta de políticas públicas eficazes e de transparência tem transformado a saúde em um retrato do abandono.